Defendeu Professor Catedrático Macamo em aula inaugural
Quinta-feira, 20 de Março de 2025, uma data que ficará cravada na retina e na memória da comunidade universitária da Universidade Pedagógica de Maputo (UP-Maputo) pela realização da oração de sapiência proferida pelo Professor Catedrático Elísio Macamo, que marca o início do ano académico 2025. Dois anfiteatros foram necessários para albergar docentes, estudantes, e outros interessados que se juntaram no Campus Universitário de Lhanguene para ouvir o Professor Catedrático Macamo que viajara da Universidade de Basileia para proferir a aula inaugural intitulada, ‘‘Aprender (e ensinar) a discordar – o papel crítico do Ensino Superior em Moçambique’’.
Para o académico Macamo, quem discorda tem que estar de acordo com algo, em contexto democrático não é fazer apenas o que está escrito na constituição, é olhar no espírito e na letra, o princípio de que nenhum fim justifica os meios, sobretudo quando esses meios significam violar os direitos dos outros, e defender não apenas os nossos simpatizantes, mas também dos seus semelhantes.
‘‘Nós só podemos discutir a melhor versão do assunto se estivermos inseridos nele. Ouvir e entender o que foi dito, ter uma resposta a uma pergunta que foi dita; o que preciso de saber, mas não sei, para resolver o que esta pessoa acaba de me dizer?’’, questionou o Catedrático Macamo.
De acordo com o orador, na esfera pública moçambicana não se tem feito estas questões porque existem filtros que depuram o que se precisa dizer. ‘‘O filtro da convicção política, tudo o que oiço tem que passar da minha concordância sobre a minha convicção política, se alguém fala e não estando na minha bandeira política o seu posicionamento não faz sentido, isso faz para de maldade e de interesses inconfessos’’, referiu.
Durante a aula, o Professor da Basileia manifestou a sua inquietude pela falta de debate público sobre assuntos candentes do país, ‘‘nas redes sociais fala-se muito, mas sem debate, cada um está inserido num mundo próprio, só ouve a opinião dos que pensam como ele’’, disse Macamo para depois acrescentar que, ‘‘há falta de cultura de debate frutuosos, debatemos opiniões, algumas mais válidas que as outras. Se eu debato para ter razão, investirei mais tempo para ignorar tudo, procurar conforto para as minhas convicções, e fazendo isso não contribuirei para esclarecer uma questão’’.
Na conversa que durou cerca de uma hora, o Professor Macamo defendeu que ser cidadão é saber discordar e concordar, é ter consciência do que a gente não sabe, mas precisa de saber o que outros não sabem. ‘‘As universidades são chamadas a cultivar a cidadania crítica, quando uma universidade completa 40 anos ela não envelhece, aumenta o seu valor, significa, ensinar e aprender a discordar. Uma universidade ensina para além de saber fazer, ensina o saber como, e isto envolve toda a infraestrutura do conhecimento’’, justificou.
Ainda de acordo com o palestrante, no campo da inteligência e imaginação, ninguém é um não inteligente, inteligência é a capacidade de aprender, enquanto, imaginação é a capacidade de aplicar o que eu sei e, expandir os meus horizontes naquilo que não sei. ‘‘A imaginação é superior à inteligência, em Moçambique há muita gente inteligente, mas muitas vezes o conhecimento científico dessas pessoas não se faz sentir por falta de imaginação, a capacidade de descobrir novas coisas. A inteligência asfixia, enquanto a imaginação liberta’’.
O Professor Macamo recomendou à universidade a necessidade de resgatar o conhecimento, ‘‘precisamos de uma UP-Maputo que não só valoriza, mas que também cultiva a discordância, só assim é que o país pode avançar, com o sentido crítico dos seus cidadãos. Quem discorda não quer mostrar que sabe tudo, quem discorda tem sede de conhecimento, quer saber o que não sabe’’, concluiu.
Por sua vez, o reitor da UP-Maputo, Professor Jorge Ferrão falou da transformação e maturidade desta primeira instituição do ensino superior criada no período pós-independência, tendo enfatizado que a universidade jamais se esquecerá de quem terá a ajudado para o seu surgimento e crescimento, primeiro grupo de estudantes, de professores, em particular aos que vão para aposentadoria.
Num ano em que a universidade celebra 40 anos de sua existência, a instituição espera receber cerca de 72 estudantes para mestrado no regime laboral, cursos que anteriormente eram feitos no pós-laboral. ‘‘Somos uma universidade resiliente que aprendeu a se inovar, temos que nos ajustar à forma de pensar dos mais jovens, e saber que UP-Maputo se pretende no país e no mundo.’’(X)
Por: GCI – UP-Maputo